Ed Wilson Araújo
O Jornal Nacional (JN), da Rede Globo, fez
leve me a culpa na edição de hoje (13), ao resenhar o desfile das escolas de
samba do Rio de Janeiro, marcados por protestos, alguns deles diretamente ao
presidente Michel Temer (PMDB) e aos senhores de engenho encastelados no
Palácio do Planalto.
Durante o desfile transmitido ao vivo, na
noite anterior, os comentaristas silenciaram na apresentação da escola Paraíso do Tuiuti, carregada de
críticas à situação do país. Temer, fantasiado de vampiro, foi à melhor tradução
para o calhorda que sangra os brasileiros.
O silêncio manipulador dos comentaristas,
indicando censura, reflete as relações perigosas entre a mídia e a Casa Grande,
cúmplices do golpismo que tomou o poder na marra e colocou o país na contramão
da alegria.
A censura na transmissão da TV Globo provocou
uma onda crítica retumbante nas redes sociais, denunciando o silêncio dos
comentaristas sobre o enredo da Tuiuti. Somente no JN de hoje (13) vieram os
comentários, mesmo assim diminuindo o peso das palavras ao se referir a Michel
Temer.
No Maranhão, a TV Mirante, afiliada à Rede
Globo e controlada pela família José Sarney, esconde o Carnaval de São Luís do
noticiário local.
Durante três dias, o circuito Beira-Mar,
inovação do carnaval na capital maranhense, reúne todos os critérios de
noticiabilidade necessários à cobertura jornalística.
Atrações locais e nacionais como Elza Soares,
Pinduca, Gabi Amarantos e toda a diversidade rítmica do Carnaval de São Luís,
arrastando grande público à tarde e noite, são ignorados pela TV de José
Sarney.
A presença constante do governador Flávio
Dino (PCdoB) no circuito Beira-Mar e o sucesso do carnaval em São Luís
constrangem os barões da mídia no Maranhão. Carnaval, para eles, só era notícia
quando Roseana Sarney virava fofão.
A TV Mirante, alinhada à Rede Globo, avalista
do golpe, com o apoio de José Sarney, não tem interesse em dar visibilidade às
festividades organizadas pelo governador Flávio Dino, candidato à reeleição na
disputa com a provável participação de Roseana Sarney.
Nunca um carnaval esteve tão “politizado” e
partidarizado como este de 2018, considerando ainda que Flávio Dino foi um dos
principais críticos do golpe e, na atualidade, confronta a elite judiciária que
pretende interditar a candidatura de Lula.
Mas, no mundo de tantas voltas, eis que a
diversidade cultural do Maranhão, tema do samba enredo da escola Acadêmicos de
Tatuapé, conquistou o 1º lugar no Carnaval de São Paulo.
A contragosto, a TV Mirante deve noticiar.
Não tem como esconder um fato de repercussão nacional.
Por fim, é importante registrar algo que
precisa ser relativizado. Muitas pessoas costumam condenar os repórteres,
pauteiros e produtores das empresas de comunicação controladas por José Sarney,
como se fossem eles, os trabalhadores, responsáveis totais pelas artimanhas do
chefe maior.
Eu não atiro pedras nos meus colegas de
profissão. Eles estão lá na condição de empregados, muitos com obrigações
familiares, recebendo ordens em um mercado de trabalho muito restrito.
O problema, portanto, tem de ser analisado
sob a lente do controle acionário dos meios de comunicação. Qual de nós não tem
vontade e interesse de fazer belas reportagens sobre o Carnaval da Beira-Mar em
São Luís??!! Está lindo e vibrante, mas nem sempre a vontade do repórter
coincide com os interesses do dono a empresa.
No Maranhão provinciano, ainda mais em
véspera de eleição, até batucada sofre a dolorosa perda de interesse nos
caminhos que um fato percorre até ser transformado (ou não) em notícia – a indiferença.
REPORTAGEM WILLAME POLICARPO.
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