Chefiada pelo
ex-pastor evangélico Ronei Goes Camargo, uma quadrilha suspeita de sequestrar
gerentes de bancos nos estados do Paraná e Santa Catarina foi alvo de uma
operação do Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre), da
Polícia Civil do Paraná, batizada de Operação Jaguar. Com apoio da Delegacia de
Jaguariaíva, cidade no Oeste do estado, os policiais apreenderam armas, coletes
a prova de balas, balaclavas, luvas, 3,8 quilos de crack, cerca de R$ 250 mil
em espécie, além de motos e carros que teriam sido comprados com dinheiro roubado.
De acordo com a
investigação, o pastor foi identificado como responsável por pelo menos dois
sequestros no Paraná. O primeiro teria ocorrido em 23 de maio deste ano, em
Jaguariaíva, e o segundo, em 10 de julho, na cidade de Matinhos, no litoral
paranaense.
O método violento
como a quadrilha agia chamou a atenção da polícia, segundo o delegado de
Jaguariaíva, Derick Moura Jorge. “Desde que as investigações se iniciaram, o
tempo que eles passaram em poder dos meliantes que chamou atenção da polícia em
razão da tortura que era realizada contra a família. Na região do banco,
permaneceram com a mulher e o bebê [filho do gerente bancário] dentro do carro
e colocaram a arma na cabeça do bebê e afirmaram que se a mãe tentasse acionar
a polícia eles disparariam contra a criança”, conta o delegado.
Viagens
Durante toda a
investigação que culminou com a operação, o Tigre descobriu que após os
sequestros e roubos bem sucedidos integrantes das quadrilhas faziam viagens –
algumas delas de luxo. Depois do roubo ao banco de Jaguariaíva, em maio deste
ano, Ronei Goes Camargo foi de avião até o Rio de Janeiro, onde foi recebido
por representantes de organização criminosa sediada nos morros cariocas, e voltou
para o Paraná com um veículo Pajero, lá adquirido com dinheiro proveniente da
extorsão mediante sequestro.
Nesta viagem,
Camargo foi acompanhado por Camila Alves, com quem mantinha relacionamento
extramatrimonial. Era ela quem em troca de dinheiro fornecia a casa para que
fossem planejados os crimes e em seguida para que houvesse a contagem e a
repartição do dinheiro produto dos crimes. Camila Alves foi presa nesta
quarta-feira (18).
Ozéias Troi,
conhecido como Batman, e José Vicente Filho foram presos quando se preparavam
para realizar um sequestro e posteriormente o roubo a banco no interior do
Paraná. Eles foram detidos na região de Palmeira no dia 20 de junho quando
estavam viajando para a cidade em que cometeriam os crimes. A dupla estava num
veículo Logan, roubado em Curitiba, quando foi abordada por uma equipe do
TIGRE. Com eles foram apreendidos revólver calibre 38, colete a prova de balas,
duas pistolas calibres 9mm e uma 380, além de balaclavas, luvas e celular.
Marco Antonio
Nicleviski foi preso na BR-101 quando vinha para Curitiba. Ele já tinha
monitorado toda a rotina de um gerente de banco de uma cidade pequena próxima a
Itajaí, em Santa Catarina. Quando foi preso ele confessou para a polícia que
havia ajudado no planejamento do sequestro do gerente na cidade catarinense.
Modus
operandi
Segundo a polícia,
a organização criminosa era sofisticada e seguia o mesmo modus operandi. Havia
uma pessoa da cidade que era cooptada pela quadrilha para fazer o levantamento
do local e da rotina do gerente do banco. Era ele que anotava rotas, dados familiares,
horários, endereço da casa do gerente, bem como dados referentes a agência
bancaria escolhida como alvo. Assim como propunha os caminhos a serem
percorridos, locais de agrupamento dos membros da organização criminosa e para
manutenção de reféns em cárcere privado, rotas de fuga e os pontos para que os
veículos usados no crime fossem abandonados.
Outra parte da
quadrilha era responsável por abordar o gerente do banco no período da noite e
manter a família dele em cativeiro. Normalmente este grupo ficava na casa do
gerente, mantendo ele e a família incomunicável durante toda a noite. Do lado
de fora permaneciam os “seguranças” do bando que faziam a vigilância no entorno
da casa das vitimas, devendo avisá-los se houver movimentação policial nas
imediações.
Conforme a
investigação, o pastor evangélico era responsável por acompanhar o gerente até
o banco, no dia seguinte à tomada de reféns, e pegava todo o dinheiro
disponível. Os reféns só eram liberados depois desse processo.
A última célula da
quadrilha tinha como atribuição o plano de fuga, pela garantia da guarda dos
valores até serem divididos, da forma acordada previamente, bem como
responsáveis pela guarda das armas do bando e pelos locais de encontro para
planejamento dos crimes.
Líder preso
No dia 12 de julho
os policiais do Tigre chegaram até Ronei Goes Camargo. Ele foi preso em
Curitiba juntamente com Dhonata Marques dos Santos. Os dois foram reconhecidos
pelas vítimas do sequestro ocorrido na cidade de Matinhos. Com eles foram
apreendidos um revólver calibre 38 com numeração raspada, R$ 180 mil e três
veículos adquiridos com o dinheiro roubado. Os dois assumiram ter participado
do crime em Matinhos. Com o dinheiro foi possível identificar, pela numeração
coletada, a origem comprovada no sequestro de Matinhos.
A dupla entregou
outros dois comparsas da quadrilha: Liude Meneis da Silva e Rodrigo Pedroso de
Moraes — ambos também reconhecidos pelas vítimas em Matinhos. Os dois suspeitos
já haviam sido presos em 2014 por roubo a instituições financeiras. Liude foi
detido pelo Tigre no início desta semana juntamente com a esposa Lorena Calixto
na cidade de Foz do Iguaçu. Com os dois foram apreendidos R$ 69 mil um veículo
modelo Fiat Argo, um fuzil calibre 556 utilizado durante os crimes, bem como
uma pistola no calibre 9mm, farta munição e 3,8 quilos de crack. A droga era
comprada com dinheiro dos sequestros e revendida, aumentando assim os
rendimentos da quadrilha.
Foragidos
Moraes segue
foragido, assim como outros quatro integrantes da quadrilha: Patrick Leonardo
Correa Krutqueviski, Cleverson Camargo Gonçalves (conhecido como Cré ou Gordo)
e Luiz Alexandre Canestraro, vulgo “cachorrão”.
O Tigre suspeita
ainda que a quadrilha esteja envolvida com roubos de veículos, venda de
entorpecentes e até homicídios.
REPORTAGEM WILLAME POLICARPO.
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